sexta-feira, 17 de junho de 2011

Movimento Mudança (petistas) tenta golpe eleitoral na UFSJ


O “Movimento Mudança”, um segmento da juventude do PT, tentou um golpe na UFSJ. Naquela universidade, como em outras de Minas, está acontecendo uma eleição de delegados para o congresso UEE, organização mineira de estudantes universitários. É uma eleição entre chapas, triste imitação do carnaval eleitoral que acontece no Brasil de quatro em quatro anos, (triste dizer carnaval, pois o carnaval brasileiro é muito mais sério que a democracia brasileira).
Com apoio da associação de repúblicas daquela universidade, atualmente aparelhada pelo PSDB, o movimento Mudança fez o seguinte: (...) retirou da cédula a chapa eleita pelo CEB (Conselho de C. As). Os defensores das “Diretas Já” são tão fortes em sua democracia, que para não sofrerem derrota no próprio terreno, preferiram sabotar o processo eleitoral que defendem.
A peculiaridade do movimento estudantil da UFSJ é a existência de um forte, organizado e representativo conselho de entidades de base (C.AS), que dirige e administra o DCE. Mas o que quer o movimento Mudança? Sabotar essa representativa organização dos estudantes. Para isso recebem todo tipo de apoio da reitoria, que depois de levar muitas pauladas do DCE, resolveu “criar” seu próprio movimento estudantil, as “Diretas Já”. Mas eles acabam de mostrar quem são e isso vai fortalecer o CEB. Os estudantes não são bobos e vão saber diferenciar oportunismo de movimento estudantil.
Sobre o golpe que eles deram é preciso insistir:
1) Não é um acontecimento de exceção, golpes do mesmo tipo devem estar acontecendo em vários lugares de Minas, pois sempre que há uma eleição desse tipo algum podre acontece. Por exemplo, no Brasil só se ganha eleição com dinheiro, quantos podres acontecem por causa desse "dinheiro" antes e depois das eleições? Há casos como Tiririca, que representam até que ponto as eleições são realmente o bacanal da democracia.
2) A questão essencial não é que o movimento Mudança é formado por oportunistas, mas são oportunistas formados por uma pedagogia ordinariamente presente em quase todas as organizações estudantis brasileiras, pedagogia que se efetiva a partir dessa prática obsoleta que são as grandes eleições diretas, que consiste em reduzir a política estudantil a fraude e a eleição ganha na base do dinheiro.
Nesse sentido, se torna claro, as questões essenciais do movimento estudantil passam pela sua forma de organização, que não é uma questão de caráter burocrático, como querem alguns esquerdistas e direitistas, mas é questão essencialmente política, pois as formas de organização efetivam espaços de vivência da política, que por sua vez, são produtores de certas formas de subjetividade política. Cabe lembrar, em sete anos de experiência do poder das entidades de base na UFSJ nunca houve nada similar a esse tipo de golpe que foi promovido pelos petistas e pelo PSDB.
Um estudante pode ser inteligente, gente boa, correto, mas se ele entra para o movimento estudantil e aprende com seus companheiros mais velhos que para ganhar é preciso fraudar, ou vai embora ou se torna um oportunista e não enxerga mais problema nenhum em imitar todos os tipos de baixaria da democracia brasileira.
O golpe na UFSJ não é isolado, não está no nível dos bons sentimentos e da moral, mas da política e coloca aos estudantes o seguinte problema: vamos admitir no movimento estudantil práticas obsoletas e oportunistas ou vamos lutar para criar formas mais avançadas de organização, levando em conta que o caminho para isso é “todo poder as entidades de base”?
O problema do movimento estudantil não é de direção, mas de organização, pois só uma organização capaz de fomentar práticas realmente democráticas, que incluem o debate, a discordância, o embate e que combata sem piedade a fraude política em suas variadas manifestações pode gerar a direção, que tem que ser dada pelos estudantes, através de sua vivência profunda da política. O poder das entidades de base, uma democracia de conselhos no movimento estudantil, possibilita isso.
Os estudantes que militam no conselho de C.As da UFSJ entendem isso com clareza, mas infelizmente a esquerda brasileira é nessa questão igualzinha a direita, gosta mesmo é de fraudar e justifica suas fraudes falando de democracia, de crise de direção, de bandeiras de todas as cores e da revolução, enquanto assume práticas anti-democráticas que o golpe na UFSJ exemplifica bem. Essas práticas podem até ser classificadas como um covarde fascismo, escondendo-se atrás da palavra de democracia, pois não são os fascistas, os mais especializados, em calar seus oponentes e roubar seus direitos políticos?

terça-feira, 24 de maio de 2011

Vejam esse texto sobre o Consórcio das Universidades em Minas, de um professor da UFSJ,

Cenoura e chicote amansam universidades.




Em meados de 2010 vazou na imprensa a proposta do Consórcio de sete universidades do estado de Minas Gerais: UNIFAL (Alfenas), UNIFEI (Itajubá), UFJF (Juiz de Fora), UFLA (Lavras), UFSJ (São João del-Rei), UFOP (Ouro Preto) e UFV (Viçosa). A intenção, tratada pela imprensa de superuniversidade ou megauniversidade, visaria integrar e potencializar aquelas instituições. Então, o prazo dado era de 15 de outubro, que foi abandonado após algumas reações nas universidades. Agora, depois de um arrefecimento, a primeira reunião de 2011, realizada na Universidade Federal de Viçosa no dia 18 de abril, definiu as linhas gerais do projeto e a data limite para a adesão já para 17 de junho deste ano.



A idéia de integração, de pesquisas e cursos, com a mobilidade de professores, técnicos e estudantes, é sedutora. Pergunta-se, no entanto, se esse Consórcio, já chamado por alguns de “fusão”, é necessário para tanto. Para políticas de mobilidade não seria adequada uma política nacional, desenvolvida pela CAPES? E, nesse caso, por que restringir àquelas sete? Quanto a pesquisas e cursos de pós-graduação, não podem ser feitas caso a caso, respeitando a dinâmica de grupos e programas? É necessária, e útil, a criação de uma estrutura burocrática paralela, com um conselho gestor próprio e, como veremos, mais espaços físicos?



Algumas pretensões do Consórcio são quase infantis. Como a de que a mera soma dos patrimônios acadêmicos das sete universidades a alavancaria em rankings acadêmicos internacionais das “melhores universidades do mundo”. Uma pretensão que levou um jornalista que cobriu o tema a afirmar, não sem conversas com reitores, que “a tendência é [de] que as áreas de excelência de cada universidade sejam maximizadas a longo prazo, enquanto as de menos destaque sejam suprimidas”. Princípio justo, mas historicamente pobre, pois nega justamente a maturação das novas e expandidas universidades da região.



Mas, o que encantou o MEC no pretendido Consórcio? A perspectiva de “otimização de recursos”, com o a “possibilidade de mais investimentos, com menos despesas”. É louvável que se busque eficiência com os recursos existentes, oxalá outros o fizessem. Mas soa estranho quando se somam tarefas onde há tantas carências e que se imagine que tal estrutura burocrática é que venha a proporcionar tal racionalidade. Mas o que preocupa é a imbricação dos gastos. A esse respeito, o alto burocrata do MEC, Samuel Feliciano afirmava, já em outubro de 2010, que “a distribuição de verbas ainda não está definida e dependerá da estrutura que for adotada”. Estrutura do Consórcio? Ou das universidades? É justo e eficaz que se confundam?



Lembre-mos que as universidades envolvidas, como outras federais no país, vivem um grande e recente processo de expansão, de novos campi e cursos. Para os quais já faltam recursos, como prédios, laboratórios, pessoal etc., e apresentam dificuldades, naturais, de integração dos novos professores, técnicos e alunos, novos grupos de pesquisa, cursos e demais projetos. Muitas vezes trazendo à tona condições que se mostram pouco profissionais e democráticas naquelas instituições. Será o Consórcio, uma forma de acirrar uma competição autofágica entre as sete co-irmãs, para contornar as despesas inevitáveis dessa expansão pouco planejada, sob a rubrica de “otimização de recursos”?





Segundo o encontro de Viçosa, o MEC disporá um orçamento de R$ 20 milhões, 350 bolsas destinadas à mobilidade acadêmica e possibilidades de auxílio complementar para alunos carentes, 175 bolsas para a Assistência Estudantil, 35 bolsas de mobilidade docente e 70 bolsas para professores visitantes, 35 bolsas para a mobilidade e outras para qualificação em cursos de pós-graduação para técnicos das universidades e 140 bolsas de mobilidade para alunos de pós-graduação.

Esses recursos, já necessários ou desejáveis naquelas instituições, não são, para as sete, tão impressionantes. Tornam-se extraordinários na extravagância do Consórcio.



Por que não apenas prover os recursos das universidades expandidas, e deixa-las consolidar-se autonomamente, no ritmo e características próprias das atividades acadêmicas? Sob a avaliação, mas não a condução, do MEC. Temos aqui, além do fato de que cumprir com a obrigação de prover o que foi criado prescindir de apelo político, o segundo encanto do Consórcio para o MEC. A reunião de Viçosa reafirma a criação de “áreas estratégicas” que nortearão programas de pesquisa, com foco em “inovação e empreendedorismo”. Chega-se mesmo a apontar a de “energias renováveis e bioenergia”. Assim, a pesquisa e a pós-graduação sofreriam interferência do Consórcio. Um grupo ou comissão de pró-reitores seria encarregado da criação de um Centro de Estudos Avançados e seria implementada uma “política de inserção internacional para os cursos de pós-graduação”.



Em notícia publicada no Portal do MEC, em 23 de maio, aponta-se o município mineiro de Caxambu como provável sede administrativa do Consórcio, além de espaço a receber um centro de excelência internacional em pesquisa. O curioso é que a integração de sete universidades, com sedes em sete municípios e espalhadas por outros tantos, busque um município excêntrico tanto a suas administrações quanto a suas capacidades instaladas de pesquisa. Parecem “ciúmes” de que uma delas seja a sede do consórcio, mais do que a integração alardeada, e uma dispersão de esforços e duplicidade de investimentos, mais do que a cooperação e a eficiência acadêmica sinalizadas.



Avança-se também na intervenção sobre as graduações das consorciadas. Com a criação de um Núcleo de Estudos Pedagógicos, que discutirá a forma de ingresso na universidade, evasão e retenção discente, sistema de avaliação, normas e o controle acadêmico e projetos pedagógicos dos cursos. Fala-se apenas em encontros para discussões, mas, somadas as distâncias, a incontornável assimetria e isolamento dos colegiados das sete instituições e as pressões do MEC, temos uma forte tendência de intervenção na dinâmica interna dos cursos. Lembremos que algumas dessas questões são caras ao MEC, tais como o ENEM, os 90% de aprovação exigida pelo REUNI e as ações afirmativas.



Também são apontadas “ações de cunho social e educativo em cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que englobam o raio de localização das universidades”. Ações como o “Corredor Cultural” ou uma “rede de extensão cultural”, com corais e festival de bandas. Pondo no horizonte dessas universidades a execução de políticas públicas numa lógica que não necessariamente se originará de sua dinâmica acadêmica, na qual a extensão universitária surge articulada à pesquisa e não pelo atendimento de demandas imediatas da população e do governo.



Nenhuma das ações propostas pelos articuladores do Consórcio é, em si, ruim. O que é péssimo é um programa que retira das comunidades universitárias, em especial de seus professores e pesquisadores, o protagonismo educacional e científico. Com a inevitável sobreposição de verbas, vigorará uma inclinação aos pontos estratégicos oriundos do governo e das relações entre governo e iniciativa privada, mediada pelos reitores. Outras verbas, como emendas parlamentares e convênios, tenderão a migrar para esses pontos sinalizados de cima.



Quando retirada da lógica da ciência, da educação e da cultura, a direção a ser dada às universidades é tomada por forças estranhas ao desiderato acadêmico. Pela burocracia governamental e ministerial que deseja impor os seus programas e por articulações políticas de atendimento a setores econômicos e sociais. Deixada, claro, ao sabor de votos a serem conquistados e de carreiras a serem construídas, sob o argumento demagógico do desenvolvimento e da inclusão.



Rouba-se a autonomia universitária e com ela a perspectiva crítica da ciência e da cultura. A liberdade acadêmica que deve ser plural e contraditória e não alugada a mutirões para a solução de problemas não equacionados pelos setores do Estado que lhes são pertinentes. A ação da Universidade não pode ser balizada pelo velho método de amansar burro, que alterna a cenoura (verbas e bolsas) e o chicote (a ameaça da penúria), ao alvitre de políticas de governo.



Todas são propostas a ser desenvolvidas, mas as dificuldades de distância e da enorme variedade burocrática, além do papel preponderante de reitores e seus pró-reitores, apontam para uma centralização da direção acadêmica. Tendência que será ainda aumentada pelas já existentes dificuldades de integração das universidades expandidas e dos seus órgãos colegiados.



A própria origem do Consórcio já o denuncia. Na já citada notícia estampada no Portal do MEC, o Consórcio já é dado como realidade, com direito a Aula Magna, a despeito de não terem sido aprovados pelos conselhos superiores das universidades e pouquíssimo conhecidos das comunidades universitárias. Criando-se um fato consumado a ser enfiado goela abaixo daquelas instituições.



Mas o Consórcio de Universidades Mineiras Sul/Sudeste não é mera criação regional. Surge como um modelo de nova relação entre as universidades e o governo federal/MEC. Já foi anunciado o interesse de universidades do Sul do país. Logo as que não quiserem consorciar-se serão excluídas de milhões orientados para tal prática, e ficarão com as já instaladas carências. Instalando-se um novo modelo de relação entre as universidades públicas e o governo. Cenoura e chicote não podem amansar as universidades.



Prof. Wlamir Silva

Historiador

Professor e ex-vice-Reitor da Universidade Federal de São João del-Rei

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ainda alguma questões sobre as crises do PCB em Minas e a unidade do Partido.Ainda alguma questões sobre as crises do PCB em Minas e a unidade do Partido.

Ainda alguma questões sobre as crises do PCB em Minas
e a unidade do Partido.



Acabo de ler a nota que CC escreveu sobre o racha em São Paulo. O CC demonstrou ter razão. No entanto, é preciso levantar uma outra questão: que tipo de unidade existe hoje no PCB? Uma unidade dada pelos Congressos? Isso basta para haver unidade?Não podemos ir contra a idéia de que todos os comunistas devem cumprir as resoluções do partido, decididas democraticamente nos foruns. Ir contra o centralismo democrático é um dos piores erros que um camarada pode cometer. Mas não podemos nos enganar, de que isso basta para dizer que o partido tem unidade. Como o próprio CC admitiu, na nota sobre o caso de São Paulo, o partido é ainda muito fraco em seus instrumentos de comunicação interna, o que torna, consequentemente, pouco orgânico nosso funcionamento. Mas isso só se resolve com muito trabalho e trabalho feito da maneira certa. Acredito que o primeiro passo é debater com mais ousadia e objetividade os problemas internos do partido, caracterizar cada um deles, ver que partilhamos de uma série de problemas que são gerais na esquerda brasileira, que temos que fazer muito ainda, para ser um partido marxista-leninista.
        Milito em Minas Gerais, cá estamos perdendo militantes, já foram três esse ano. Dois deles, fizeram o correto favor de tornar sua saída pública e mostrar claramente por que não acreditam na possibilidade do PCB se tornar uma força realmente revolucionária. Fizeram críticas que muitos camaradas não tem coragem de enfrentar. Sammer, por exemplo, disse que tentamos explicar ao povo brasileiro o socialismo sem levar em conta que isso só pode ser explicado ao povo, apenas se levantarmos bandeiras, que sejam profundamente ligadas a realidade do povo. Nesse sentido, ele falou  que o partido deixa o nacionalismo para burguesia, como se as questões nacionais fossem uma espécie de oposto do internacionalismo. Falou também dos sentimentos misticos, variações esquisitas do esquerdismo,  da hesitação em defender bandeiras que são centrais na disputa política atualmente. Podemos listar algumas de suas críticas mais ou menos assim:

Sentimentos místico ou do esquerdismo e suas variações:

certeza subjetiva e ilusória de que somos uma força realmente revolucionária,
idéia de que o partido deve tomar sempre muito cuidado, pois existe sempre gente querendo entrar na organização para liquida-la,
incapacidade de ver que pelo hábito do esquerdismo somos para o imaginário do "povão" a mesma coisa que um PSTU ou PCO, isso ele não disse com essas palavras, mas questão do dogmatismo, da estreiteza da nossa política e da crítica que ele levanta contra as práticas esquerdistas, revelam essa questão.
incapacidade de lhe dar com as situações mais imediatas e locais, mas muita vontade de ter resposta para todos os problemas internacionais e teóricos,
nossa concepção tacanha e esquerdista da luta eleitoral.

Questões e bandeiras que temos dificuldade ou hesitação em defender:

A revogabilidade dos mandatos, em seu texto ele fala da centralidade dessa proposta, que é realmente central se quisermos fazer uma disputa política eficiente.
A necessidade de construir o movimento estudantil a partir da bandeira “todo poder as entidades de base”, isto é , apartir da idéia de que todo poder deve ser dos centros acadêmicos.

         Concordo com o camarada em vários pontos, em quase todos aliás. Mas sei que muitos camaradas que estão no partido hoje não concordam. Cadê a resposta ao camarada Sammer? Cadê o debate? Ou vamos adotar a prática de Salomão: “calado até um tolo se passa por sábio”.

         Houveram críticas a sua exoneração, como eu mesmo fiz, mas respostas as questões muito sérias que ele levanta em sua carta só foram feitas por um camarada em São João Del Rei, no blog Sao Joao del pueblo. Talvez não haja nada a debater com o camarada, por que ele tem toda a razão, se for isso, temos ainda outra obrigação, fazer auto-crítica e avançar nos debates acerca dos nossos limites, enquanto instituição partidária, capaz de avançar com a luta pelo socialismo no Brasil.
           A carta do André Luan foi mais pontual, mas ele também partilha das críticas do camarada Sammer. André Luan, saiu por que se cansou de ver autoritarismo no partido. Ele viu com seus olhos certas práticas acontecerem, quando por exemplo, o Secretário Político do PCB de Minas Gerais, quis usar de sua condição de dirigente para abafar um discordância no congresso da UJC. Ação realmente rídicula. Não sei como isso foi encarado pelo CC, sei mais ou menos como CR viu a situação, mas se isso não é sério, a democracia também não é.
            O problema nesse caso são os critérios pelos quais alguém se mantém na função de direção dentro do partido. A realidade é que não somos muito objetivos nessas coisas. O critério da competencia é substituido pelo critério do “tempo” no partido, que não é um critério ruim, mas que se não ficar bem abaixo do critério da competência, se torna uma arma contra o próprio partido, pois, uma das funções da direção tem que ser a capacidade de manter a unidade e um incompetente autoritário nunca poderá contribuir nesse sentido.
         A perda de militantes em Minas, temos que admitir, se deve também (existem outros fatores) a alguns aspectos tacanhos e limitados do secretariado político.  A questão não é pessoal, como alguns "limitados" podem imaginar, mas de que crises vão se acumulando, problemas que vão só aumentando, quando não os encaramos de frente.
             Um comunista que participa de um coletivo, principalmente de um coletivo partidário, deve saber quando ele não representa as bases que tenta dirigir, isto é, quando ele não tem a miníma chance de cumprir seu papel. A única atitude correta nesse caso é colocar sua função a disposição, essa deve ser a auto-crítica. Um comunista não pode pautar suas ações dentro da organização no orgulho e na vaidade, no medo de se sentir menor, quando tem que assumir que não consegue cumprir sua função.
            Outra coisa, não é correta a idéia de que um militante não pode questionar seus dirigentes, ele não pode é desobedecer o centralismo democrático, mas como homem, como ser humano e principalmente como comunista, ele deve falar, debater, partilhar com seus camaradas aquilo que segundo sua avaliação, pode estar atrapalhando a organização.
  Cabe ainda lembrar, estamos a ponto de perder todo um agrupamento de estudantes em São João Del rei, que não pertencem a nenhum grupo fracionista, que entraram no UJC por que apostaram no potencial histórico do PCB se tornar uma força realmente revolucionária e na UJC como uma organização capaz de avançar nos debates sobre os problemas de organização que tanto atrapalham o movimento estudantil, por que qualquer ser humano com o mínimo de bom senso, é capaz de identificar como verdadeiros os sintomas de arbitrariedade apontados pelos camaradas que se desligaram. Esses novatos (que já avançaram em vários discussões dentro do movimento social e participaram já de momentos importantes da construção do partido e da UJC em Minas), não são idiotas, são pessoas realmente muito inteligentes e não vão cair na conversa fiada, “tudo pela unidade”, querem mais do partido. Se isso não for sério, se isso não for importante, se é normal perder militantes e simpatizantes, estamos realmente fadados a ser mais um grupelho na esquerda brasileira.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O caso UFSJ

Quero me solidarizar com a luta pela política que os estudantes da UFSJ estão travando nesse momento. O Movimento estudantil nessa universidade funciona bastante diferente de outros lugares do país. Seu DCE é dirigido e administrado pelas entidades de base, C'AS e D'AS. Ou seja, não há nenhum carnaval eleitoral como os que comumente acontecem em outras unversidades, onde o movimento estudantil é reduzido a querelas partidárias, em que militantes de partido declarados ou não, procuram a todo custo aparelhar as entidades, em nome do seu partido ou seus interesses.  Aqueles que sentirem vontade de entender o movimento estudantil da UFSJ não terão dificuldade. Basta entrar em contato com os estudantes de lá, eles são muito acessíveis e procuram explicar detalhadametne o  sentido do movimento, que pode ser considerado, atualmente, a forma mais avançada de organização de uma entidade de estudantes existentes no país. Me graduei em filosofia na UFSJ, vi esse movimento, trabalhei nele e sei que ele é muito mais democrático que qualquer movimento em que a entidade  na qual os seus membro são eleitos por mega-eleiçõpes, ganhadas na base do dinheiro e do formas diversas de golpe. Vou colocar um texto no blog mostrando como esse movimento funciona, e não precisarei colocar um texto meu, já que lá, ao contrário de outros lugares, os estudantes são capazes de teorizar sobre o que fazem e pensar teoricamente o que pretendem fazer; há circulação de poder, entendam. circulação de poder. A democracia liberal é democracia da não circulação de poder, (...). Contudo,  a forma de organização do DCE UFSJ não é agradável a todos os seguimentos daquela  universidade. A reitoria, através do seu Reitor, tenta de modo ciclíco e constante quebrar autonomia do movimento e ferir seu modo de organização. Até o momento ela foi sempre derrotada, pois quem milita no DCE UFSJ, aprende que é preciso defender aquela forma de organização, pois ela é realmente superior as formas de aparelhamento que existem em outros entidades.  A ultima do Reitor foi tentar mudança no estatuto da universidade; se acontecer tal mudança o DCE não poderá mais indicar conselheiros para orgãos de deliberação da unversidade. A tática do Reitor é fazer com que os representantes dos estudantes no conselho máximo da unversidade, o CONSU, sejam favoráveis não a política da universidade, mas a política pessoal do Reitor, que ele tenta a todo custo implementar de forma anti-democrática e clientelista. Existe história até do reitor tentando comprar voto de entidade de base ( de C'A) mas para  não alguma eleição sua, mas  voto da entidade base dentro do conselho que dirige o DCE, o CEB. Compra de voto nos mínimos lugares, o reitor é mesmo um homem formado na democracia liberal, sabe de todos seuis golpes e não tem pudor nenhum em aplicar isso na universidade.  Mas olhem, o C.A que ele tentou comprar na ocasião, uma eleição para eleger um representante para o CONSU, não aceitou, se sentiu ferido, entendeu a proposta do reitor era uma ofensa, (...).  Abaixo o texto de um ex-aluno da UFSJ, atualmente economista, e que foi membro do CONSU, Sammer Siman. O texto explica com detalhes o que pretende o reitor.

O REI ESTÁ NÚ
Sammer Siman
Economista e ex-conselheiro universitário da UFSJ

Quem manda na UFSJ são os conselhos superiores, sendo o conselho universitário a instância máxima de deliberação. O REItor só tem o rei no nome, pois é um mero executor das deliberações dos conselhos superiores. Logo, para dirigir a Universidade, é comum os reitores buscarem influenciar na composição de tais conselhos.

Desde 2004 o atual reitor da UFSJ acompanha todas as eleições de conselheiro que pode. Na sua ânsia de obter unanimidade ou ampla maioria do conselho, por algumas vezes fere a autonomia de entidades ou, no popular, “enfia os pés pelas mãos”, “enfia o pé na jaca”.

O caso mais emblemático ocorreu em 2010. Para compor uma vaga estudantil que estava aberta, o DCE elegeu o estudante de História André Luan Nunes Macedo. E o elegeu de acordo com o estatuto da UFSJ, alterado pelo CONSU em 2005 numa AMPLA DISCUSSÃO com a comunidade universitária.

Inconformado com a indicação feita pelo DCE o reitor iniciou a intervenção. Questionou a primeira eleição por meio da Procuradoria Jurídica. Diante do questionamento, o conselho achou por bem fazer nova eleição, elegendo novamente o estudante André Luan. Não obtendo êxito, o reitor iniciou investidas junto aos CA’s e DA’s (que são as entidades que elegem o conselheiro por meio do conselho de entidades de base), interferindo na autonomia das entidades. Um caso é simbólico:

Numa reunião com o CA de engenharia mecânica, o reitor condicionou um apoio financeiro à semana de engenharia ao voto da entidade em outro candidato a conselheiro que não fosse o estudante André Luan. Mostrando sua autonomia e coragem, mesmo diante da ameaça o CA de engenharia manteve seu voto no estudante André.

E com iniciativas desta natureza o reitor não obteve êxito. O estudante André Luan foi eleito e reeleito por CINCO vezes, ficando claro pra todo movimento a ingerência do reitor. Hoje tramita um processo na comissão de ética contra tal intervenção.

Na data de hoje, 24 de março de 2011, a reitoria propôs como pauta única da reunião do CONSU do dia 28 de março mudanças no estatuto da UFSJ, na tentativa de enfraquecer a autonomia do movimento estudantil. Sugere a alteração do artigo 10 do estatuto da Universidade, justamente o artigo que garante ao DCE a indicação dos conselheiros, querendo submeter a eleição do conselheiro ao voto difuso de cada estudante. Trata-se de um fato preocupantemente inédito nos últimos anos, propor importantes alterações estatutárias tão rapidamente, sem possibilidade de ampla discussão na comunidade universitária e, ainda, sem a participação de um dos dois representantes dos estudantes, que terá seu mandato vencido no dia 27 de março! 

Além do que, tentando um gesto de esperteza, a reitoria sugere na alteração a expansão das vagas de estudantes no conselho, pra tentar confundir e dividir os estudantes. Algo ilegal, pois o Parágrafo Único do artigo 8º do Estatuto da UFSJ afirma que a composição do conselho deve ser de no mínimo 70% de professores, cabendo os outros 30% serem divididos entre técnicos e alunos.

Ou seja, pra cada aluno a mais, deverá haver um técnico a mais e sete professores a mais, algo impossível sem uma revisão geral do estatuto e do regimento da UFSJ!

Na sua ingerência, a reitoria levanta tal proposta em “nome da DEMOCRACIA”. Momento interessante pra debater tal tema, certamente uma boa hora pro DCE convidar alguém da reitoria pra debater o assunto. Democracia, palavra de origem grega, significa poder do povo. Ou seja, significa poder da maioria. No foco de análise, significa poder dos estudantes.

Ora, o que se propõe é dar a cada estudante um mísero voto. E nada mais. O conselheiro, por este tipo de eleição, seria eleito em eleições grandes, caras, de baixo nível, pois a reitoria obviamente se mostra como um pólo interessado, logo não mediria esforços para financiar a campanha de seus indicados. A “vantagem” deste tipo de eleição é que o representante não é controlado pelos “representados”, podendo votar do jeito que quiser, negociar seu voto do jeito que quiser.

Tal gesto nega a existência de uma representação estudantil, que, diga-se de passagem, já mostrou e tem mostrado sua força e organização, inclusive já ocupando a reitoria uma vez, uma ocupação declarada legítima por este mesmo reitor.

No entanto, é de se esperar que a atual reitoria seja atraída por esta pseudo-democracia. Em 2008, quando foram eleitos por este mesmo tipo de eleição de voto difuso, Helvécio-Valéria deixaram explícito em seu programa político a “defesa da autonomia dos departamentos”. Hoje, como os ventos mudaram na política universitária, eles falam de fim dos departamentos.

Este tipo de eleição funciona assim. Prometem mundos e fundos antes do voto e depois, com o passar do tempo, ignora-se promessas na mesma naturalidade em que se bebe um copo com água.

É interessante tratar de outro exemplo atual, guardada suas devidas proporções, é claro. A “democracia” norte-americana, sustentada nos mesmos pilares da atual defendida pela reitoria (do voto difuso), afirma dar opções ao povo.

Ora, Obama foi eleito encarnando a figura do “anti-guerra”, com a promessa de que retiraria rapidamente as tropas do Iraque e do Afeganistão. E o que aconteceu? Manteve as tropas, e agora lidera outra carnificina, outra invasão bélica.

O que dizer então? Teria o Obama alguma espécie de humor bipolar? O fato é que o fundamento do poder econômico norte-americano está na indústria de guerra e, independente do presidente, quem manda é tal indústria.

O poder que o DCE possui de indicar o conselheiro é amplo. O conselheiro é eleito e deposto a qualquer momento pelo conselho de entidades de base e deve estar sempre presente nas reuniões de DCE, discutindo com a base e prestando contas a ela. O dinheiro não faz sentido neste tipo de eleição, sendo eleitos os conselheiros mais competentes, mais estudados e que tenham maior compromisso com a base. Ao contrário das eleições individualistas, onde é eleito o mais bonitinho, o mais carismático, o mais rico, o mais subserviente, o mais cínico...

Enfim, mais um triste capítulo da UFSJ, que vê cada dia mais sua democracia ameaçada e atrofiada em nome de interesses obscuros.



quinta-feira, 10 de março de 2011

UM IMPORTANTE ARTIGO DO CAMARADA ALEX LOMBELLO

Infantilidades dos comunistas brasileiros no século XXI

Quando surgiu o movimento comunista internacional, liderado pelo Partido Bolchevique, os novos partidos, Comunistas, começaram a sofrer do que Lênin chamou de “doenças infantis”. Podemos dividir em três partes principais as críticas de Lênin no livro “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”. Primeiro Lênin demonstrou que o preconceito dos revolucionários contra as eleições é inaceitável. Depois, que é impossível qualquer revolução, ou mesmo qualquer movimento comunista de verdade, sem alianças. Em terceiro que somente aos contra-revolucionários interessa que os comunistas fiquem longe das organizações de massas, mesmo que essas sejam controladas por pelegos. Em meio a tudo isso Lênin identificou um espírito de seita, o sectarismo, muito forte nos grupos políticos que apresentam sintomas de doença infantil. Hoje, podemos acrescentar ao menos duas características normais nos infantis esquerdistas, que é a mania de fazer oposição às revoluções dos outros, e em alguns casos o culto à luta armada. No Brasil, surgem características nacionais do esquerdismo, que assim como as utopias, nasce espontaneamente, pois é pura ignorância, pura falta de estudos do marxismo, são posições a que qualquer pessoa chega a partir do que aprende na TV, na escola, na família, na igreja e nas ruas, ou seja, a partir do senso comum.

Lênin inicia o Esquerdismo informando aos ignorantes que sem participar de várias eleições o Partido Bolchevique nunca teria derrubado o Tzar, e que foi necessário participar de eleições capitalistas mesmo depois de instalado o poder dos Soviets. Podemos acrescentar que também os revolucionários de Sierra Maestra construíram parte de seu movimento revolucionário participando de eleições, pois muitos dos que estavam com Fidel no dia do ataque a Moncada haviam participado com ele de diversas eleições. Hoje, como na época de Lênin, só restam dois casos em que revolucionários não participam de eleições, quando não podem ou quando não participar é a forma mais eficiente de participar. No primeiro caso estão lutando para que aconteçam eleições ou para poderem participar delas, e no segundo estão participando!

Porém, na totalidade dos agrupamentos brasileiros do campo revolucionário, existe horror às eleições. Constatamos em nossa última reunião da célula do Partido em São João del-Rei que nossa forma de participar das eleições é de fato uma forma de não participar. Não preparamos as eleições antes, não aprimoramos nossas táticas eleitorais, não pensamos realmente em eleger, e nossos militantes não se empolgam. Essa participação envergonhada é também um esquerdismo envergonhado, uma infantilidade, e um delírio! Delírio, miragem, esquizofrenia, pois afinal podemos afirmar que a frente eleitoral é aquela em que hoje mais atuamos, de dois em dois anos, a única em que atuam todas as células. Temos uma ou outra célula atuando no movimento sindical, uma ou outra célula atuando no movimento estudantil, mas nas eleições atuam todas as células, ainda que pouco e envergonhadas. Então porque não dar ao debate eleitoral a devida importância?

Portanto, também é uma infantilidade afirmar que não podemos criar células no interior “só para participar de eleições”. Como “só”? Nem nas grandes cidades conseguimos atuar em todos os movimentos. Em São João del-Rei, por exemplo, a atuação comunista é praticamente restrita à UFSJ. Então, como exigir dos camaradas espalhados pelas 800 pequenas cidades de Minas que não participem “só” das eleições?

Depois de debochar muito dos grupelhos que na sua época subestimavam as eleições, Lênin demonstrou o quanto eram inseguros e ingênuos por também não gostarem de alianças. Mais uma vez Lênin demonstrou que sem fazer muitas alianças, com os mais diversos agrupamentos nacionais e até inimigos da pátria, o Partido Bolchevique não teria chegado nem perto da Revolução. Isso também podemos dizer de todas as outras revoluções que vem seguindo a bolchevique durante os séculos XX e XXI – algumas até aconteceram sem que os revolucionários participassem de eleições pois em alguns casos não haviam eleições das quais participar, mas em TODAS as alianças foram indispensáveis, mutáveis, por vezes feitas com o próprio inimigo.

No Brasil, contudo, essa mania de não gostar de alianças é reforçada por uma das mais conhecidas frases cristãs, “diga-me com que tu andas e eu te direi quem és”, à qual de fato seguem os nossos “revolucionários”, ao invés de seguirem os conselhos de Lênin. Ou seja, “revolucionários” que não estudam servem mais para esperar o Reino dos Céus do que para lutar pela Revolução!

Uma análise completamente míope do governo Lula reforça o engano. Acreditam os esquerdistas que o PT se degenerou porque fez alianças com partidos como o PL e o PMDB, o que é uma inversão da ordem das coisas. Muito antes de chegar à presidência da República o PT já tinha riscado o socialismo de seus textos, já concordava com a maioria dos projetos e crenças da direita, já estava envolvido em escândalos em sindicatos (desde que nasceu), entidades estudantis, prefeituras etc. Mas essa crença de que o PT foi influenciado por seus novos aliados é interessante porque demonstra um dos principais motivos dessa infantilidade - é medo, insegurança! A falta de firmeza em uma estratégia e em táticas correspondentes, de que trataremos em outro artigo, leva ao receio de se deixar influenciar, ou de que a militância seja influenciada por outros.

No caso mineiro, o posicionamento ultra-esquerdista de restringir o leque de alianças gera situações ridículas, pois na maioria das pequenas cidades não existe nenhum partido revolucionário ou socialista, e não raro as forças mais avançadas de centenas dessas cidades estão em agrupamentos como o DEM ou o PSDB. Então, decretar letrinhas com as quais os comunistas não podem se aliar é o mesmo que decretar que o Partido Comunista não pode existir em umas 700 cidades mineiras. Lênin teria nojo de ditos revolucionários que atrasam a Revolução por conta de crenças religiosas, insegurança e ignorância de tudo o que ele escreveu! Um comunista precisa ser capaz de analisar cidade por cidade, cada contexto, as principais contradições, quais são as forças que realmente existem e o que elas realmente significam naquele contexto, e não tentar adivinhar o que é cada força pelo nome (letrinhas) que ela mesma escolheu.

Por fim, Lênin explica uma coisa muito óbvia, que qualquer um que pretenda atuar entre os trabalhadores tem que ir onde eles estão! Já naquela época havia a ilusão de, ao invés de enfrentar os parasitas que sufocam o movimento sindical, tentar criar outro movimento sindical, puro e revolucionário. Não é nem preciso dizer que os “revolucionários” brasileiros são também adeptos dessa ilusão. Se estivéssemos acordados nesse aspecto estaríamos atuando ao menos nas cinco maiores centrais sindicais, com as mesmas propostas para todas, filiando gente em todas, distribuindo e vendendo nossos materiais em todos os encontros. Porém, embora estejamos acostumados a décadas vendo que 80% ou mais dos sindicatos são parasitados, e não adotemos quanto a isso uma atitude de intolerância, muito menos quando se tratam de nossos próprios militantes, continuamos presos a uma dita ética que diz que temos que nos limitar só a uma central. No caso da central estudantil, a UNE, existem entre nós traidores que querem nos afastar de seus fóruns. Ou seja, o que as ditaduras sonharam a fazer, o que a direita deseja do fundo do coração, alguns de nossos próprios militantes se dispõem a defender em nome da mesma “ética” esquerdista e infantil.

Qualquer pessoa que realmente luta pela Revolução deve aprender com os revolucionários, sobretudo pelos que tiveram sucesso, e destes o mais brilhante foi Lênin. Sendo plenamente alfabetizado mesmo um chipanzé deixaria de ter infantilidades esquerdistas depois de ler “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, cujos argumentos são destruidores. Portanto, como essa doença atinge fortemente os agrupamentos revolucionários brasileiros, só podemos concluir que nossos camaradas se acham muito sabidos, acham que não têm nada a aprender com Lênin, e mentem ao dizer que leram esse livrinho.

De fato surgiram coisas novas desde 1923, quando esse livro começou a circular, e o esquerdismo passou a ter mais dois sintomas graves – o culto à luta armada e a implicância com as revoluções alheias.

O culto à luta armada é mais velho do que Lênin, já tinha quando este nasceu até nome, blanquismo, que consiste na ilusão de que um grupo de homens bem unidos, preparados e organizados pode realizar uma insurreição bem sucedida e fazer a Revolução. Ou seja, é tomar a Revolução pela sua aparência! O mais visível, o momento mais marcante, o dia D da Revolução, para esses inocentes se torna a própria Revolução. Depois da Revolução de Outubro, embora esta não tenha sido nem um pouco blanquista, o blanquismo retomou força, escondido dentro dos Partidos Comunistas. A Revolução Cubana também contribuíu sobretudo na América Latina, para essa ilusão. Como tem a mesma raíz das outras características esquerdistas, a ignorância, via de regra são os mesmos que têm preconceitos contra as eleições, contra as alianças e contra participar de organizações pelegas os que fazem o culto da luta armada. É perfeitamente natural que um jovem revolucionário deseje chegar rapidamente à Revolução e creia que pode fazê-lo por meio da luta armada, mas se estudar vai aprender que para se fazer uma Revolução é necessário muito mais que tiros e bombas.

O PCB se destaca pelo seu pacifismo, pois durante a ditadura, quando a moda na América Latina era combater as ditaduras a bala, nosso Partido acertou não seguir esse caminho então suicida. É hoje óbvio que esse acerto esteve ligado a um engano internacional, que foi a orientação do Partido Comunista da União Soviética, a partir de 1960, de se tentar em todo o mundo a “via pacífica para o socialismo” e de negar a luta armada por princípio. Claro que não se pode negar a luta armada em qualquer circunstância, e claro que em qualquer país chega uma hora em que as coisas são decididas pelas armas, de forma que a orientação do PCUS era um absurdo. Porém, nas circunstancias brasileiras de então era simplesmente suicídio pegar em armas, e em geral embora as armas vez que outra devam ser usadas, em qualquer país do mundo as Revoluções se fazem no campo nas idéias, e em 99% do tempo as armas são inúteis. Ou seja, o PCB estava certo, mas hoje, dentro do PCB, aparecem militantes cultuando a luta armada e negando esse acerto do passado.

No Brasil, país muito cristão, a maioria dos pretensos comunistas são ainda cristãos, cristãos mais verdadeiros que o Papa, mas ainda não comunistas, porque para isso têm que estudar não só os testamentos, mas os livros de Marx, Lênin, Engels, Gramsci etc., além de trabalhos teóricos sobre a realidade brasileira. Então, nosso esquerdismo tupiniquim tem muito de culto à pobreza, maniqueísmo, purismo, misticismo, todas coisas nada comunistas.

O culto à pobreza é especialmente anti-comunista, mas na verdade forte entre os comunistas brasileiros. Acredita-se que o comunista tem a obrigação de ser pobre, e que o rico não pode ser comunista. É claro que tal preconceito está ligado a um engano muito difundido, segundo o qual comunismo seria igualitarismo. Também está relacionado a uma compreensão idólatra dos trabalhadores. No final do século XX e início do XXI entrou na moda cultuar especificamente os trabalhadores rurais. Os pobres seriam os revolucionários, naturalmente. Como todos que já estudaram Lênin e Marx sabem, os que pensam assim não leram nem um nem outro, ou se não são gênios brilhantes para terem derrubado seus argumentos. Deve-se destacar que Marx, Engels, Lênin, Fidel e diversos outros revolucionários não tiveram origem pobre, muito pelo contrário, Engels era industrial e Fidel latifundiário.

O maniqueísmo é também presente na maioria de nossas análises. O lado bom e o ruim, a esquerda e a direita, os proletas e os capitalistas, trotskistas e stalinistas com quem se pode e não se pode aliar, o pobre e o rico. Por isso Lênin chamava a coisa de Infantil, porque só as crianças pensam assim, os adultos começam a perceber a imensa complexidade da coisa. Comunistas não são militantes braçais, precisamos de cientistas, que portanto têm que entender o mundo em seus detalhes e não tentar simplificá-lo.

Era normal, desde a década de 40, grupos esquerdistas se identificarem como trotskistas, tanto que uma coisa virou sinônimo da outra para a maioria das pessoas. De fato, Trotski não era tão esquerdista quanto seus pretensos seguidores, e o uso de seu nome é um pouco de distorção, como blanquismo vindo de Blanqui. Eram ambos revolucionários que não podem ser julgados no lugar de seus pretensos seguidores. Porém, combater, no Brasil, o trotskismo e as infantilidades é quase sempre a mesma coisa! Portanto, é óbvio que os comunistas devem ler Trotski, mas não devem se curvar às limitações infantis de seus pretensos seguidores. Deve-se acrescentar que hoje existem grupos ditos stalinistas mas tão esquerdistas quanto os trotskistas.

È completamente normal que um partido que está crescendo filie jovens esquerdistas o tempo todo, pois o esquerdismo brota do capitalismo, é a vontade de derrubar o capitalismo sem a ciência de como se faz uma revolução. Mas precisamos combater esse esquerdismo com determinação, pois estamos mergulhados nele. De fato, por vezes o aceitamos como normal, e isso nos enfraquece e impede de realizar nosso trabalho.

Tiririca e a reforma política

Um artigo interessante acerca das "formas" políticas no Brasil!!!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um fanatismo impede a liberdade !


Só mais uma brasileira

Saí de casa com 9 anos de idade, porque minha mãe espancava eu e meu irmão. Não tínhamos comida, o básico para sobreviver. Meu pai nunca foi presente. É um alcoólatra que só vi duas vezes na vida. Minha mãe é uma mulher honesta, mas que não conseguia educar seus filhos. Já foi constatado que ela tem problemas mentais.
Ela trabalhava como cigana na Praça da República (em São Paulo, SP). Quando eu fugi de casa segui esse caminho, e encontrei uma grande quantidade de meninos e meninas de rua. Apresentei-me a um deles, este me ensinou como chegar em um albergue para jovens, e a partir desse momento passei a ser menina de rua. Só comparecia nessa instituição para comer, tomar banho e ter um pouco de infância (brincar). No meu quinto dia na rua, comecei a cheirar cola e depois maconha.
Alguns educadores preocupados com a minha situação tentavam me orientar, mas de nada valia. Foi quando me apresentaram a uma religiosa, a irmã Ana Maria, que me encaminhou para um abrigo, o Sol e Vida. Passei uns três anos lá e deixei de usar drogas. Esta instituição não era financiada pelo Governo. Quando foi fechada, me encaminharam a outros abrigos da prefeitura, entre eles o Instituto Dom Bosco, do Bom Retiro. E assim foi, até os 17 anos.
Para alguém que usa droga, não era fácil seguir regras. Foi por muita persistência e um ótimo trabalho de vários educadores que eu consegui deixar as drogas, sair da desnutrição e recuperar a saúde após anemia grave.
Na infância, era rebelde, não queria aceitar a minha situação. Apenas queria ter uma família. Mas havia algo que eu valorizava: a escola e os cursos que eu fazia na adolescência. Aos 14 anos de idade, comecei a jogar futebol, tive a minha primeira remuneração. Aos 16 anos, entrei em uma empresa, a Ericsson, que capacitava jovens dos abrigos para o mercado de trabalho. Essa empresa financiou meu curso de auxiliar de enfermagem e o início do técnico. O último não foi possível concluir.
Explico: existe uma lei nas instituições públicas segunda a qual o jovem a partir dos 17 anos e 11 meses não é mais sustentado pelo governo, tem que se manter sozinho. Como eu não tinha contato com a minha família, quando se aproximou a data de completar essa idade, entrei em desespero.
A sorte foi que a entidade, o Instituto Dom Bosco, do Bom Retiro, criou um projeto denominado Aquece Horizonte. Este projeto é uma república para jovens que, ao sair do abrigo, podem ficar lá até aos 21 anos. Os coordenadores e patrocinadores acompanham o desenvolvimento do jovem neste período de amadurecimento.
As regras mais básicas da república são: trabalhar, estudar e querer vencer na vida. No segundo ano de república, eu desejava entrar na universidade, mas sabia que não tinha condições de pagar a faculdade de enfermagem ou conseguir passar na universidade pública.
Optei então por fazer a faculdade de pedagogia. É uma área que me encanta, e a única que podia pagar. No primeiro semestre da faculdade de pedagogia, um educador do abrigo, o Ivandro, me chamou pra uma conversa e me informou sobre um processo seletivo para estudar medicina em Cuba. Fiquei contente e aceitei participar da seleção.
Passei pelo processo seletivo no consulado cubano e estou desde 2007 em Cuba. Iniciei o terceiro ano de medicina no dia 06 de setembro de 2010. São 7 anos no país, sendo 6 de medicina e um de pré-médico.
Ir a Cuba foi minha maior conquista. Além de aprender sobre a medicina, aprendo sobre a vida, a importância dos valores. Antes de ir, sempre lia reportagens negativas sobre o país, mas quando cheguei lá, não foi isso que vi. Em Cuba, todos têm direito a educação, saúde, cultura, lazer e o básico pra sobreviver.
Li em muitas revistas que o Fidel Castro é um ditador, e descobri em Cuba, que ele é amado e idolatrado pelos cubanos. Escrevem que Cuba é o país da miséria. Mas de que tipo de miséria eles falam? Interpreto como miséria o que passei na infância. Em casa, não tinha água encanada, luz, comida...
Recordo que tinha dias em que eu, meu irmão e minha mãe não conseguíamos nos levantar da cama devido à fraqueza por falta de alimento. Tomávamos água doce pra esquecer a fome. Então, quando abro uma revista publicada no Brasil e nela está escrito que Cuba é um país miserável, eu me pergunto: se em Cuba, onde todos têm direito a saúde, educação, moradia, lazer e alimento, como podemos denominar o Brasil?
Temos um país com riqueza imensa, que conquistou o 8º lugar no ranking dos países mais ricos, mas sua riqueza se concentra nas mãos de poucos, com uns 60% da população vivendo em uma miséria verdadeira, pior que a miséria da minha infância.
Cuba sofre um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos por ser um país
socialista e é criticado por outros governos. No entanto, consegue dar bolsa para mais de 15 mil estrangeiros de vários países, se destaca na área da saúde (gratuita), educação (colegial, médio, técnico e superior – gratuito para todos) e esporte (2º lugar no quadro de medalhas, na história dos Jogos Pan-americanos), é livre de analfabetismo.
A cada mil nascidos vivos morrem menos de 4. Vivenciando tudo isso, eu
queria também que o Brasil fosse miserável como Cuba, como é escrito em várias revistas. Acho que o brasileiro estaria melhor e não seria tão comum encontrar tantos jovens sem educação, matando, roubando e se drogando nas ruas.
Vou passar mais quatro anos em Cuba e não quero deixar o curso por nada.
Desejo concluir a faculdade e ajudar esse povo carente que sonha com melhoras na área da saúde, quero ajudar outros jovens a realizar os seus sonhos, como me ajudaram. Também pretendo apoiar meu irmão, que deseja estudar Direito.
Tenho meu irmão como exemplo de superação. Saiu de casa com 13 anos de
idade, mas não foi para uma instituição governamental. Morou em um cômodo que seu patrão lhe ofereceu. Enquanto eu estudava e fazia cursos, ele estava trabalhando para ter o pão de cada dia. Hoje, ele é um homem com 25 anos de idade, casado e tem uma filha linda, e mesmo assim encontra tempo pra me apoiar e me dar conselhos.
Foi muito bom visitar o Brasil. Depois de longos 13 anos tive um tipo de comunicação com a minha mãe. Isso pra mim é uma vitória. Quero estar próxima dela quando voltar.
Conto um pouco da minha história, mas sei que muitos brasileiros ultrapassaram barreiras piores, até realizarem seus sonhos. Peço ao povo brasileiro que continue lutando. É período de eleições, peço também que todos votem com consciência, escolha a pessoa adequada pra administrar o nosso país tão injusto.
Gisele Antunes Rodrigues,
Outubro de 2010.