sexta-feira, 25 de março de 2011

O caso UFSJ

Quero me solidarizar com a luta pela política que os estudantes da UFSJ estão travando nesse momento. O Movimento estudantil nessa universidade funciona bastante diferente de outros lugares do país. Seu DCE é dirigido e administrado pelas entidades de base, C'AS e D'AS. Ou seja, não há nenhum carnaval eleitoral como os que comumente acontecem em outras unversidades, onde o movimento estudantil é reduzido a querelas partidárias, em que militantes de partido declarados ou não, procuram a todo custo aparelhar as entidades, em nome do seu partido ou seus interesses.  Aqueles que sentirem vontade de entender o movimento estudantil da UFSJ não terão dificuldade. Basta entrar em contato com os estudantes de lá, eles são muito acessíveis e procuram explicar detalhadametne o  sentido do movimento, que pode ser considerado, atualmente, a forma mais avançada de organização de uma entidade de estudantes existentes no país. Me graduei em filosofia na UFSJ, vi esse movimento, trabalhei nele e sei que ele é muito mais democrático que qualquer movimento em que a entidade  na qual os seus membro são eleitos por mega-eleiçõpes, ganhadas na base do dinheiro e do formas diversas de golpe. Vou colocar um texto no blog mostrando como esse movimento funciona, e não precisarei colocar um texto meu, já que lá, ao contrário de outros lugares, os estudantes são capazes de teorizar sobre o que fazem e pensar teoricamente o que pretendem fazer; há circulação de poder, entendam. circulação de poder. A democracia liberal é democracia da não circulação de poder, (...). Contudo,  a forma de organização do DCE UFSJ não é agradável a todos os seguimentos daquela  universidade. A reitoria, através do seu Reitor, tenta de modo ciclíco e constante quebrar autonomia do movimento e ferir seu modo de organização. Até o momento ela foi sempre derrotada, pois quem milita no DCE UFSJ, aprende que é preciso defender aquela forma de organização, pois ela é realmente superior as formas de aparelhamento que existem em outros entidades.  A ultima do Reitor foi tentar mudança no estatuto da universidade; se acontecer tal mudança o DCE não poderá mais indicar conselheiros para orgãos de deliberação da unversidade. A tática do Reitor é fazer com que os representantes dos estudantes no conselho máximo da unversidade, o CONSU, sejam favoráveis não a política da universidade, mas a política pessoal do Reitor, que ele tenta a todo custo implementar de forma anti-democrática e clientelista. Existe história até do reitor tentando comprar voto de entidade de base ( de C'A) mas para  não alguma eleição sua, mas  voto da entidade base dentro do conselho que dirige o DCE, o CEB. Compra de voto nos mínimos lugares, o reitor é mesmo um homem formado na democracia liberal, sabe de todos seuis golpes e não tem pudor nenhum em aplicar isso na universidade.  Mas olhem, o C.A que ele tentou comprar na ocasião, uma eleição para eleger um representante para o CONSU, não aceitou, se sentiu ferido, entendeu a proposta do reitor era uma ofensa, (...).  Abaixo o texto de um ex-aluno da UFSJ, atualmente economista, e que foi membro do CONSU, Sammer Siman. O texto explica com detalhes o que pretende o reitor.

O REI ESTÁ NÚ
Sammer Siman
Economista e ex-conselheiro universitário da UFSJ

Quem manda na UFSJ são os conselhos superiores, sendo o conselho universitário a instância máxima de deliberação. O REItor só tem o rei no nome, pois é um mero executor das deliberações dos conselhos superiores. Logo, para dirigir a Universidade, é comum os reitores buscarem influenciar na composição de tais conselhos.

Desde 2004 o atual reitor da UFSJ acompanha todas as eleições de conselheiro que pode. Na sua ânsia de obter unanimidade ou ampla maioria do conselho, por algumas vezes fere a autonomia de entidades ou, no popular, “enfia os pés pelas mãos”, “enfia o pé na jaca”.

O caso mais emblemático ocorreu em 2010. Para compor uma vaga estudantil que estava aberta, o DCE elegeu o estudante de História André Luan Nunes Macedo. E o elegeu de acordo com o estatuto da UFSJ, alterado pelo CONSU em 2005 numa AMPLA DISCUSSÃO com a comunidade universitária.

Inconformado com a indicação feita pelo DCE o reitor iniciou a intervenção. Questionou a primeira eleição por meio da Procuradoria Jurídica. Diante do questionamento, o conselho achou por bem fazer nova eleição, elegendo novamente o estudante André Luan. Não obtendo êxito, o reitor iniciou investidas junto aos CA’s e DA’s (que são as entidades que elegem o conselheiro por meio do conselho de entidades de base), interferindo na autonomia das entidades. Um caso é simbólico:

Numa reunião com o CA de engenharia mecânica, o reitor condicionou um apoio financeiro à semana de engenharia ao voto da entidade em outro candidato a conselheiro que não fosse o estudante André Luan. Mostrando sua autonomia e coragem, mesmo diante da ameaça o CA de engenharia manteve seu voto no estudante André.

E com iniciativas desta natureza o reitor não obteve êxito. O estudante André Luan foi eleito e reeleito por CINCO vezes, ficando claro pra todo movimento a ingerência do reitor. Hoje tramita um processo na comissão de ética contra tal intervenção.

Na data de hoje, 24 de março de 2011, a reitoria propôs como pauta única da reunião do CONSU do dia 28 de março mudanças no estatuto da UFSJ, na tentativa de enfraquecer a autonomia do movimento estudantil. Sugere a alteração do artigo 10 do estatuto da Universidade, justamente o artigo que garante ao DCE a indicação dos conselheiros, querendo submeter a eleição do conselheiro ao voto difuso de cada estudante. Trata-se de um fato preocupantemente inédito nos últimos anos, propor importantes alterações estatutárias tão rapidamente, sem possibilidade de ampla discussão na comunidade universitária e, ainda, sem a participação de um dos dois representantes dos estudantes, que terá seu mandato vencido no dia 27 de março! 

Além do que, tentando um gesto de esperteza, a reitoria sugere na alteração a expansão das vagas de estudantes no conselho, pra tentar confundir e dividir os estudantes. Algo ilegal, pois o Parágrafo Único do artigo 8º do Estatuto da UFSJ afirma que a composição do conselho deve ser de no mínimo 70% de professores, cabendo os outros 30% serem divididos entre técnicos e alunos.

Ou seja, pra cada aluno a mais, deverá haver um técnico a mais e sete professores a mais, algo impossível sem uma revisão geral do estatuto e do regimento da UFSJ!

Na sua ingerência, a reitoria levanta tal proposta em “nome da DEMOCRACIA”. Momento interessante pra debater tal tema, certamente uma boa hora pro DCE convidar alguém da reitoria pra debater o assunto. Democracia, palavra de origem grega, significa poder do povo. Ou seja, significa poder da maioria. No foco de análise, significa poder dos estudantes.

Ora, o que se propõe é dar a cada estudante um mísero voto. E nada mais. O conselheiro, por este tipo de eleição, seria eleito em eleições grandes, caras, de baixo nível, pois a reitoria obviamente se mostra como um pólo interessado, logo não mediria esforços para financiar a campanha de seus indicados. A “vantagem” deste tipo de eleição é que o representante não é controlado pelos “representados”, podendo votar do jeito que quiser, negociar seu voto do jeito que quiser.

Tal gesto nega a existência de uma representação estudantil, que, diga-se de passagem, já mostrou e tem mostrado sua força e organização, inclusive já ocupando a reitoria uma vez, uma ocupação declarada legítima por este mesmo reitor.

No entanto, é de se esperar que a atual reitoria seja atraída por esta pseudo-democracia. Em 2008, quando foram eleitos por este mesmo tipo de eleição de voto difuso, Helvécio-Valéria deixaram explícito em seu programa político a “defesa da autonomia dos departamentos”. Hoje, como os ventos mudaram na política universitária, eles falam de fim dos departamentos.

Este tipo de eleição funciona assim. Prometem mundos e fundos antes do voto e depois, com o passar do tempo, ignora-se promessas na mesma naturalidade em que se bebe um copo com água.

É interessante tratar de outro exemplo atual, guardada suas devidas proporções, é claro. A “democracia” norte-americana, sustentada nos mesmos pilares da atual defendida pela reitoria (do voto difuso), afirma dar opções ao povo.

Ora, Obama foi eleito encarnando a figura do “anti-guerra”, com a promessa de que retiraria rapidamente as tropas do Iraque e do Afeganistão. E o que aconteceu? Manteve as tropas, e agora lidera outra carnificina, outra invasão bélica.

O que dizer então? Teria o Obama alguma espécie de humor bipolar? O fato é que o fundamento do poder econômico norte-americano está na indústria de guerra e, independente do presidente, quem manda é tal indústria.

O poder que o DCE possui de indicar o conselheiro é amplo. O conselheiro é eleito e deposto a qualquer momento pelo conselho de entidades de base e deve estar sempre presente nas reuniões de DCE, discutindo com a base e prestando contas a ela. O dinheiro não faz sentido neste tipo de eleição, sendo eleitos os conselheiros mais competentes, mais estudados e que tenham maior compromisso com a base. Ao contrário das eleições individualistas, onde é eleito o mais bonitinho, o mais carismático, o mais rico, o mais subserviente, o mais cínico...

Enfim, mais um triste capítulo da UFSJ, que vê cada dia mais sua democracia ameaçada e atrofiada em nome de interesses obscuros.



quinta-feira, 10 de março de 2011

UM IMPORTANTE ARTIGO DO CAMARADA ALEX LOMBELLO

Infantilidades dos comunistas brasileiros no século XXI

Quando surgiu o movimento comunista internacional, liderado pelo Partido Bolchevique, os novos partidos, Comunistas, começaram a sofrer do que Lênin chamou de “doenças infantis”. Podemos dividir em três partes principais as críticas de Lênin no livro “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”. Primeiro Lênin demonstrou que o preconceito dos revolucionários contra as eleições é inaceitável. Depois, que é impossível qualquer revolução, ou mesmo qualquer movimento comunista de verdade, sem alianças. Em terceiro que somente aos contra-revolucionários interessa que os comunistas fiquem longe das organizações de massas, mesmo que essas sejam controladas por pelegos. Em meio a tudo isso Lênin identificou um espírito de seita, o sectarismo, muito forte nos grupos políticos que apresentam sintomas de doença infantil. Hoje, podemos acrescentar ao menos duas características normais nos infantis esquerdistas, que é a mania de fazer oposição às revoluções dos outros, e em alguns casos o culto à luta armada. No Brasil, surgem características nacionais do esquerdismo, que assim como as utopias, nasce espontaneamente, pois é pura ignorância, pura falta de estudos do marxismo, são posições a que qualquer pessoa chega a partir do que aprende na TV, na escola, na família, na igreja e nas ruas, ou seja, a partir do senso comum.

Lênin inicia o Esquerdismo informando aos ignorantes que sem participar de várias eleições o Partido Bolchevique nunca teria derrubado o Tzar, e que foi necessário participar de eleições capitalistas mesmo depois de instalado o poder dos Soviets. Podemos acrescentar que também os revolucionários de Sierra Maestra construíram parte de seu movimento revolucionário participando de eleições, pois muitos dos que estavam com Fidel no dia do ataque a Moncada haviam participado com ele de diversas eleições. Hoje, como na época de Lênin, só restam dois casos em que revolucionários não participam de eleições, quando não podem ou quando não participar é a forma mais eficiente de participar. No primeiro caso estão lutando para que aconteçam eleições ou para poderem participar delas, e no segundo estão participando!

Porém, na totalidade dos agrupamentos brasileiros do campo revolucionário, existe horror às eleições. Constatamos em nossa última reunião da célula do Partido em São João del-Rei que nossa forma de participar das eleições é de fato uma forma de não participar. Não preparamos as eleições antes, não aprimoramos nossas táticas eleitorais, não pensamos realmente em eleger, e nossos militantes não se empolgam. Essa participação envergonhada é também um esquerdismo envergonhado, uma infantilidade, e um delírio! Delírio, miragem, esquizofrenia, pois afinal podemos afirmar que a frente eleitoral é aquela em que hoje mais atuamos, de dois em dois anos, a única em que atuam todas as células. Temos uma ou outra célula atuando no movimento sindical, uma ou outra célula atuando no movimento estudantil, mas nas eleições atuam todas as células, ainda que pouco e envergonhadas. Então porque não dar ao debate eleitoral a devida importância?

Portanto, também é uma infantilidade afirmar que não podemos criar células no interior “só para participar de eleições”. Como “só”? Nem nas grandes cidades conseguimos atuar em todos os movimentos. Em São João del-Rei, por exemplo, a atuação comunista é praticamente restrita à UFSJ. Então, como exigir dos camaradas espalhados pelas 800 pequenas cidades de Minas que não participem “só” das eleições?

Depois de debochar muito dos grupelhos que na sua época subestimavam as eleições, Lênin demonstrou o quanto eram inseguros e ingênuos por também não gostarem de alianças. Mais uma vez Lênin demonstrou que sem fazer muitas alianças, com os mais diversos agrupamentos nacionais e até inimigos da pátria, o Partido Bolchevique não teria chegado nem perto da Revolução. Isso também podemos dizer de todas as outras revoluções que vem seguindo a bolchevique durante os séculos XX e XXI – algumas até aconteceram sem que os revolucionários participassem de eleições pois em alguns casos não haviam eleições das quais participar, mas em TODAS as alianças foram indispensáveis, mutáveis, por vezes feitas com o próprio inimigo.

No Brasil, contudo, essa mania de não gostar de alianças é reforçada por uma das mais conhecidas frases cristãs, “diga-me com que tu andas e eu te direi quem és”, à qual de fato seguem os nossos “revolucionários”, ao invés de seguirem os conselhos de Lênin. Ou seja, “revolucionários” que não estudam servem mais para esperar o Reino dos Céus do que para lutar pela Revolução!

Uma análise completamente míope do governo Lula reforça o engano. Acreditam os esquerdistas que o PT se degenerou porque fez alianças com partidos como o PL e o PMDB, o que é uma inversão da ordem das coisas. Muito antes de chegar à presidência da República o PT já tinha riscado o socialismo de seus textos, já concordava com a maioria dos projetos e crenças da direita, já estava envolvido em escândalos em sindicatos (desde que nasceu), entidades estudantis, prefeituras etc. Mas essa crença de que o PT foi influenciado por seus novos aliados é interessante porque demonstra um dos principais motivos dessa infantilidade - é medo, insegurança! A falta de firmeza em uma estratégia e em táticas correspondentes, de que trataremos em outro artigo, leva ao receio de se deixar influenciar, ou de que a militância seja influenciada por outros.

No caso mineiro, o posicionamento ultra-esquerdista de restringir o leque de alianças gera situações ridículas, pois na maioria das pequenas cidades não existe nenhum partido revolucionário ou socialista, e não raro as forças mais avançadas de centenas dessas cidades estão em agrupamentos como o DEM ou o PSDB. Então, decretar letrinhas com as quais os comunistas não podem se aliar é o mesmo que decretar que o Partido Comunista não pode existir em umas 700 cidades mineiras. Lênin teria nojo de ditos revolucionários que atrasam a Revolução por conta de crenças religiosas, insegurança e ignorância de tudo o que ele escreveu! Um comunista precisa ser capaz de analisar cidade por cidade, cada contexto, as principais contradições, quais são as forças que realmente existem e o que elas realmente significam naquele contexto, e não tentar adivinhar o que é cada força pelo nome (letrinhas) que ela mesma escolheu.

Por fim, Lênin explica uma coisa muito óbvia, que qualquer um que pretenda atuar entre os trabalhadores tem que ir onde eles estão! Já naquela época havia a ilusão de, ao invés de enfrentar os parasitas que sufocam o movimento sindical, tentar criar outro movimento sindical, puro e revolucionário. Não é nem preciso dizer que os “revolucionários” brasileiros são também adeptos dessa ilusão. Se estivéssemos acordados nesse aspecto estaríamos atuando ao menos nas cinco maiores centrais sindicais, com as mesmas propostas para todas, filiando gente em todas, distribuindo e vendendo nossos materiais em todos os encontros. Porém, embora estejamos acostumados a décadas vendo que 80% ou mais dos sindicatos são parasitados, e não adotemos quanto a isso uma atitude de intolerância, muito menos quando se tratam de nossos próprios militantes, continuamos presos a uma dita ética que diz que temos que nos limitar só a uma central. No caso da central estudantil, a UNE, existem entre nós traidores que querem nos afastar de seus fóruns. Ou seja, o que as ditaduras sonharam a fazer, o que a direita deseja do fundo do coração, alguns de nossos próprios militantes se dispõem a defender em nome da mesma “ética” esquerdista e infantil.

Qualquer pessoa que realmente luta pela Revolução deve aprender com os revolucionários, sobretudo pelos que tiveram sucesso, e destes o mais brilhante foi Lênin. Sendo plenamente alfabetizado mesmo um chipanzé deixaria de ter infantilidades esquerdistas depois de ler “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, cujos argumentos são destruidores. Portanto, como essa doença atinge fortemente os agrupamentos revolucionários brasileiros, só podemos concluir que nossos camaradas se acham muito sabidos, acham que não têm nada a aprender com Lênin, e mentem ao dizer que leram esse livrinho.

De fato surgiram coisas novas desde 1923, quando esse livro começou a circular, e o esquerdismo passou a ter mais dois sintomas graves – o culto à luta armada e a implicância com as revoluções alheias.

O culto à luta armada é mais velho do que Lênin, já tinha quando este nasceu até nome, blanquismo, que consiste na ilusão de que um grupo de homens bem unidos, preparados e organizados pode realizar uma insurreição bem sucedida e fazer a Revolução. Ou seja, é tomar a Revolução pela sua aparência! O mais visível, o momento mais marcante, o dia D da Revolução, para esses inocentes se torna a própria Revolução. Depois da Revolução de Outubro, embora esta não tenha sido nem um pouco blanquista, o blanquismo retomou força, escondido dentro dos Partidos Comunistas. A Revolução Cubana também contribuíu sobretudo na América Latina, para essa ilusão. Como tem a mesma raíz das outras características esquerdistas, a ignorância, via de regra são os mesmos que têm preconceitos contra as eleições, contra as alianças e contra participar de organizações pelegas os que fazem o culto da luta armada. É perfeitamente natural que um jovem revolucionário deseje chegar rapidamente à Revolução e creia que pode fazê-lo por meio da luta armada, mas se estudar vai aprender que para se fazer uma Revolução é necessário muito mais que tiros e bombas.

O PCB se destaca pelo seu pacifismo, pois durante a ditadura, quando a moda na América Latina era combater as ditaduras a bala, nosso Partido acertou não seguir esse caminho então suicida. É hoje óbvio que esse acerto esteve ligado a um engano internacional, que foi a orientação do Partido Comunista da União Soviética, a partir de 1960, de se tentar em todo o mundo a “via pacífica para o socialismo” e de negar a luta armada por princípio. Claro que não se pode negar a luta armada em qualquer circunstância, e claro que em qualquer país chega uma hora em que as coisas são decididas pelas armas, de forma que a orientação do PCUS era um absurdo. Porém, nas circunstancias brasileiras de então era simplesmente suicídio pegar em armas, e em geral embora as armas vez que outra devam ser usadas, em qualquer país do mundo as Revoluções se fazem no campo nas idéias, e em 99% do tempo as armas são inúteis. Ou seja, o PCB estava certo, mas hoje, dentro do PCB, aparecem militantes cultuando a luta armada e negando esse acerto do passado.

No Brasil, país muito cristão, a maioria dos pretensos comunistas são ainda cristãos, cristãos mais verdadeiros que o Papa, mas ainda não comunistas, porque para isso têm que estudar não só os testamentos, mas os livros de Marx, Lênin, Engels, Gramsci etc., além de trabalhos teóricos sobre a realidade brasileira. Então, nosso esquerdismo tupiniquim tem muito de culto à pobreza, maniqueísmo, purismo, misticismo, todas coisas nada comunistas.

O culto à pobreza é especialmente anti-comunista, mas na verdade forte entre os comunistas brasileiros. Acredita-se que o comunista tem a obrigação de ser pobre, e que o rico não pode ser comunista. É claro que tal preconceito está ligado a um engano muito difundido, segundo o qual comunismo seria igualitarismo. Também está relacionado a uma compreensão idólatra dos trabalhadores. No final do século XX e início do XXI entrou na moda cultuar especificamente os trabalhadores rurais. Os pobres seriam os revolucionários, naturalmente. Como todos que já estudaram Lênin e Marx sabem, os que pensam assim não leram nem um nem outro, ou se não são gênios brilhantes para terem derrubado seus argumentos. Deve-se destacar que Marx, Engels, Lênin, Fidel e diversos outros revolucionários não tiveram origem pobre, muito pelo contrário, Engels era industrial e Fidel latifundiário.

O maniqueísmo é também presente na maioria de nossas análises. O lado bom e o ruim, a esquerda e a direita, os proletas e os capitalistas, trotskistas e stalinistas com quem se pode e não se pode aliar, o pobre e o rico. Por isso Lênin chamava a coisa de Infantil, porque só as crianças pensam assim, os adultos começam a perceber a imensa complexidade da coisa. Comunistas não são militantes braçais, precisamos de cientistas, que portanto têm que entender o mundo em seus detalhes e não tentar simplificá-lo.

Era normal, desde a década de 40, grupos esquerdistas se identificarem como trotskistas, tanto que uma coisa virou sinônimo da outra para a maioria das pessoas. De fato, Trotski não era tão esquerdista quanto seus pretensos seguidores, e o uso de seu nome é um pouco de distorção, como blanquismo vindo de Blanqui. Eram ambos revolucionários que não podem ser julgados no lugar de seus pretensos seguidores. Porém, combater, no Brasil, o trotskismo e as infantilidades é quase sempre a mesma coisa! Portanto, é óbvio que os comunistas devem ler Trotski, mas não devem se curvar às limitações infantis de seus pretensos seguidores. Deve-se acrescentar que hoje existem grupos ditos stalinistas mas tão esquerdistas quanto os trotskistas.

È completamente normal que um partido que está crescendo filie jovens esquerdistas o tempo todo, pois o esquerdismo brota do capitalismo, é a vontade de derrubar o capitalismo sem a ciência de como se faz uma revolução. Mas precisamos combater esse esquerdismo com determinação, pois estamos mergulhados nele. De fato, por vezes o aceitamos como normal, e isso nos enfraquece e impede de realizar nosso trabalho.

Tiririca e a reforma política

Um artigo interessante acerca das "formas" políticas no Brasil!!!